DIA DE SÃO BENEDITO, SEGUNDO A PIEDADE POPULAR
A tradição de se
comemorar o dia de São Benedito no dia 13 de maio remonta há vários anos e de vários
locais do nosso país.
A comunidade Chapada,
pertencente a nossa paróquia de Santa Catarina de Alexandria, tem como santo
padroeiro São Benedito e, todos os anos, realiza
sua festa nesta data.
Porém, sabemos
que a Festa Litúrgica de São Benedito acontece no dia 05 de Outubro, no Brasil. Então por que comemorar no dia 13 de maio?
ABOLIÇÃO
DA ESCRAVATURA
A Abolição da
Escravatura foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil após a
Proclamação da Independência, em 1822.
No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país.
Por associação à
história de São Benedito, filho de escravos capturados da Etiópia ou
possivelmente também feito escravo, os negros do Brasil adotaram o santo como
seu padroeiro.
Tamanha é a
importância dessa data que muitos municípios, como Natércia, instituem o dia 13
de maio como feriado municipal.
DEVOÇÃO À
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E
A SÃO
BENEDITO
Antes mesmo de
haver a libertação da escravidão negra, grupos se reuniam e formavam
confrarias, que cuidavam dos doentes negros, compravam suas alforrias,
enterravam os mortos e se constituíam como uma forma de resistência identitária
dos povos negros, escravos e forros.
As do Rio de
Janeiro, por exemplo, foram criadas entre 1639 e 1640, denominadas confrarias
de Nossa Senhora do Rosário e de São
Benedito. Em 1667, as confrarias se uniram, formando a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Essa nova confraria era
formada, em sua maioria, por negros e pardos e era dedicada aos dois santos.
Em muitos pontos
do Brasil, as irmandades de negros foram fundadas sob a invocação de Nossa
Senhora do Rosário. A sua associação, em uma mesma irmandade, com São Benedito
resultou naturalmente do fato de ter sido esse santo um escravo negro.
Na segunda metade
do século XVIII, a Irmandade obteve licença para organizar festividades. Então, os membros da confraria passaram a fazer festas em homenagem à
Corte do Rei do Congo. Eram eleitos o rei e a rainha, sendo que havia um
desfile público com muita música e dançarinos. “A festa do Rosário era, como se
percebe, uma cerimônia de cunho nitidamente africano, mas que despertava grande
interesse e curiosidade entre o povo da época” (A. Maurício).
A Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário e São Benedito esteve diretamente ligada ao movimento abolicionista. Na segunda metade do século XIX, a Irmandade participou ativamente do
processo de libertação de escravos.
Uma curiosidade: o dia 13 de Maio é dedicado a Nossa Senhora de Fátima, que, como sabemos, se apresentou aos 3 pastorinhos como Nossa Senhora do Rosário.
A FESTA
Sabe-se que a cultura e a religiosidade
afro-brasileiras dialogaram com o Catolicismo e ambas se influenciaram. Assim,
as festividades em louvor a São Benedito acontecem até hoje em várias
localidades brasileiras.
Em Natércia, segundo relatos da paroquiana
Eva Maria dos Santos, através do que contava seu
pai, Sr. Misquilipe, os grupos de
congadeiros ou festeiros pediam mantimentos nas casas e, com tudo que era
arrecadado, faziam-se comidas típicas, como doces, e um almoço. Acontecia, então, uma grande confraternização
entre os participantes e comemorava-se, assim, o dia 13 de Maio, com
apresentação da congada pelas ruas da cidade.
A
CONGADA
A Congada ou o
Congado é uma dança que lembra a coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga
de Angola, acompanhado de um cortejo compassado, levantamento de mastros e
música.
Os instrumentos
musicais utilizados são os tambores, a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco.
Esta manifestação cultural e religiosa de influência africana ocorre em algumas
regiões do Brasil, tendo por temas a devoção a São Benedito, o encontro da
imagem de Nossa Senhora do Rosário e a Embaixada (representação da luta de
Carlos Magno e os Doze Pares de França e o Rei da Turquia, ou seja, o combate
entre mouros e cristãos).
A IGREJA DE SÃO BENEDITO
Segundo relatos da paroquiana Sra. Teresinha Bueno, por iniciativa de Monsenhor José Hugo Goulart e Silva, pároco da época,
começaram os trabalhos para construção da igreja. Foi colocada a pedra
fundamental e celebrada a primeira Missa sobre o terreno.
O lote de terreno de 800m2 foi doado pela
Sra. Maria Duarte de Vilas Boas, a
princípio oralmente, sendo legalizada a Escritura Pública de Doação em
12/08/1985, quando era pároco o Pe. Gilberto
Paganelli Junqueira. Conta, agora, a Sra. Marina Vilas Boas que a doação
era uma promessa de sua mãe, D. Maria, a São Benedito.
A primeira comissão instalada para
construção da igreja, compra dos bancos, pisos e vitrais foi encabeçada pelo
Monsenhor José Hugo, que depois foi substituído pelo Pe. Paganelli, contando
também com membros da comunidade: José Maurício
Capistrano, Paulo Cléber Junho e Maurício Pereira dos Reis.
Em 1996, foi criado o Conselho Pastoral
Comunitário (CPC), iniciado pelo Pe. Tomé Ferreira
da Silva e continuado pelos Pe. José
Genivano de Araújo e Pe. Luiz Paulino
Grillo, cujas obras resultaram na construção das torres, banheiros,
sala de catequese, aquisição de aparelho de som, dentre outros.
Na recente administração do Pe. Thiago de São José Guimarães, houve uma
reforma do presbitério, com colação de granito e novo jogo de altar, bem como a
construção do sacrário e da sacristia.
Foto disponibilizada pela Sra. Marina Vilas Boas
Foto disponibilizada pela Sra. Teresinha Bueno
A TRADICIONAL FESTA EM NATÉRCIA*
A paroquiana e moradora da comunidade
Chapada, Débora Cristina da Silva, fez um
relato desta festa no Informativo Paroquial Nº 18, de Maio/2015:
“Antigamente, quando a tradição começou,
não havia a igreja na comunidade. Era somente a festa de rua, feita pelas
pessoas da comunidade. Até que D. Maria Duarte de
Vilas Boas doou o lote para a
construção da igreja de São Benedito, e, com a ajuda de nosso querido Monsenhor José Hugo, de meu avô Dito Vená e de meu
Tio Guido, ela foi erguida. Desde então,
as festividades religiosas em nossa comunidade começaram.
Todo dia 13 de maio, antes de o galo
cantar, a tradição nos manda sair para a famosa alvorada, que até hoje é feita,
com a congada de São Benedito. Já fizeram parte muitas pessoas: os Mestres
Violeiros e Coroinha, como Dito Vená, Zé Reis (sanfoneiro), Antônio Dito (reco-reco),
Geraldo Reis (organizador), minha tia Rosária na bandeira, Mônica da Brasa,
Cida do Dito Date, Cordel, entre muitos outros, que não me recordo no momento
(peço desculpas por não me lembrar de todos).
Como tudo na vida passa, muita coisa
mudou. Muitos congadeiros já faleceram e a congada foi passando de geração em
geração, e, hoje, é comandada pelo meu tio Antônio
(Piche) e composta por netos,
bisnetos, sobrinhos e amigos de meu avô, que, sem dúvida alguma, está orgulhoso
em ver a continuidade desta tradição que ele tanto lutou para acontecer, com a
colaboração de muitos padres que por aqui passaram, em especial Pe. Thiago, que
está nesta luta conosco hoje, para manter a festa.
Além do já relatado, nossa festa conta com
a parte social (movimento de barracas, bingos e shows musicais).
Que São Benedito abençoe nossa
comunidade, nossa paróquia e todos os congadeiros e festeiros que passaram,
passam e que ainda vão passar por esta belíssima festa!”
Fontes:
*Em consequência da Pandemia do novo coronavirus, não se pode realizar a festa. O texto foi escrito em 2015, quando ainda era administrador paroquial o Pe. Thiago Guimarães.