quarta-feira, 13 de maio de 2020

Tradição do 13 de Maio

13 DE MAIO: 
DIA DE SÃO BENEDITO, SEGUNDO A PIEDADE POPULAR

A tradição de se comemorar o dia de São Benedito no dia 13 de maio remonta há vários anos e de vários locais do nosso país.
A comunidade Chapada, pertencente a nossa paróquia de Santa Catarina de Alexandria, tem como santo padroeiro São Benedito e, todos os anos, realiza sua festa nesta data.
Porém, sabemos que a Festa Litúrgica de São Benedito acontece no dia 05 de Outubro, no Brasil. Então por que comemorar no dia 13 de maio?


ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A Abolição da Escravatura foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil após a Proclamação da Independência, em 1822.
No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país.
Por associação à história de São Benedito, filho de escravos capturados da Etiópia ou possivelmente também feito escravo, os negros do Brasil adotaram o santo como seu padroeiro.
Tamanha é a importância dessa data que muitos municípios, como Natércia, instituem o dia 13 de maio como feriado municipal.


DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E
A SÃO BENEDITO

Antes mesmo de haver a libertação da escravidão negra, grupos se reuniam e formavam confrarias, que cuidavam dos doentes negros, compravam suas alforrias, enterravam os mortos e se constituíam como uma forma de resistência identitária dos povos negros, escravos e forros.
As do Rio de Janeiro, por exemplo, foram criadas entre 1639 e 1640, denominadas confrarias de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Em 1667, as confrarias se uniram, formando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Essa nova confraria era formada, em sua maioria, por negros e pardos e era dedicada aos dois santos.
Em muitos pontos do Brasil, as irmandades de negros foram fundadas sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. A sua associação, em uma mesma irmandade, com São Benedito resultou naturalmente do fato de ter sido esse santo um escravo negro.
Na segunda metade do século XVIII, a Irmandade obteve licença para organizar festividades. Então, os membros da confraria passaram a fazer festas em homenagem à Corte do Rei do Congo. Eram eleitos o rei e a rainha, sendo que havia um desfile público com muita música e dançarinos. “A festa do Rosário era, como se percebe, uma cerimônia de cunho nitidamente africano, mas que despertava grande interesse e curiosidade entre o povo da época” (A. Maurício).
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito esteve diretamente ligada ao movimento abolicionista. Na segunda metade do século XIX, a Irmandade participou ativamente do processo de libertação de escravos.


Uma curiosidade: o dia 13 de Maio é dedicado a Nossa Senhora de Fátima, que, como sabemos, se apresentou aos 3 pastorinhos como Nossa Senhora do Rosário.

A FESTA
        
Sabe-se que a cultura e a religiosidade afro-brasileiras dialogaram com o Catolicismo e ambas se influenciaram. Assim, as festividades em louvor a São Benedito acontecem até hoje em várias localidades brasileiras.
Em Natércia, segundo relatos da paroquiana Eva Maria dos Santos, através do que contava seu pai, Sr. Misquilipe, os grupos de congadeiros ou festeiros pediam mantimentos nas casas e, com tudo que era arrecadado, faziam-se comidas típicas, como doces, e um almoço. Acontecia, então, uma grande confraternização entre os participantes e comemorava-se, assim, o dia 13 de Maio, com apresentação da congada pelas ruas da cidade.



A CONGADA

A Congada ou o Congado é uma dança que lembra a coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola, acompanhado de um cortejo compassado, levantamento de mastros e música.
Os instrumentos musicais utilizados são os tambores, a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco. Esta manifestação cultural e religiosa de influência africana ocorre em algumas regiões do Brasil, tendo por temas a devoção a São Benedito, o encontro da imagem de Nossa Senhora do Rosário e a Embaixada (representação da luta de Carlos Magno e os Doze Pares de França e o Rei da Turquia, ou seja, o combate entre mouros e cristãos).




A IGREJA DE SÃO BENEDITO

Segundo relatos da paroquiana Sra. Teresinha Bueno, por iniciativa de Monsenhor José Hugo Goulart e Silva, pároco da época, começaram os trabalhos para construção da igreja. Foi colocada a pedra fundamental e celebrada a primeira Missa sobre o terreno.
O lote de terreno de 800m2 foi doado pela Sra. Maria Duarte de Vilas Boas, a princípio oralmente, sendo legalizada a Escritura Pública de Doação em 12/08/1985, quando era pároco o Pe. Gilberto Paganelli Junqueira. Conta, agora, a Sra. Marina Vilas Boas que a doação era uma promessa de sua mãe, D. Maria, a São Benedito.
A primeira comissão instalada para construção da igreja, compra dos bancos, pisos e vitrais foi encabeçada pelo Monsenhor José Hugo, que depois foi substituído pelo Pe. Paganelli, contando também com membros da comunidade: José Maurício Capistrano, Paulo Cléber Junho e Maurício Pereira dos Reis.
Em 1996, foi criado o Conselho Pastoral Comunitário (CPC), iniciado pelo Pe. Tomé Ferreira da Silva e continuado pelos Pe. José Genivano de Araújo e Pe. Luiz Paulino Grillo, cujas obras resultaram na construção das torres, banheiros, sala de catequese, aquisição de aparelho de som, dentre outros.
Na recente administração do Pe. Thiago de São José Guimarães, houve uma reforma do presbitério, com colação de granito e novo jogo de altar, bem como a construção do sacrário e da sacristia.

Foto disponibilizada pela Sra. Marina Vilas Boas

Foto disponibilizada pela Sra. Teresinha Bueno


A TRADICIONAL FESTA EM NATÉRCIA*

A paroquiana e moradora da comunidade Chapada, Débora Cristina da Silva, fez um relato desta festa no Informativo Paroquial Nº 18, de Maio/2015:

“Antigamente, quando a tradição começou, não havia a igreja na comunidade. Era somente a festa de rua, feita pelas pessoas da comunidade. Até que D. Maria Duarte de Vilas Boas doou o lote para a construção da igreja de São Benedito, e, com a ajuda de nosso querido Monsenhor José Hugo, de meu avô Dito Vená e de meu Tio Guido, ela foi erguida. Desde então, as festividades religiosas em nossa comunidade começaram.
Todo dia 13 de maio, antes de o galo cantar, a tradição nos manda sair para a famosa alvorada, que até hoje é feita, com a congada de São Benedito. Já fizeram parte muitas pessoas: os Mestres Violeiros e Coroinha, como Dito Vená, Zé Reis (sanfoneiro), Antônio Dito (reco-reco), Geraldo Reis (organizador), minha tia Rosária na bandeira, Mônica da Brasa, Cida do Dito Date, Cordel, entre muitos outros, que não me recordo no momento (peço desculpas por não me lembrar de todos).
Como tudo na vida passa, muita coisa mudou. Muitos congadeiros já faleceram e a congada foi passando de geração em geração, e, hoje, é comandada pelo meu tio Antônio (Piche) e composta por netos, bisnetos, sobrinhos e amigos de meu avô, que, sem dúvida alguma, está orgulhoso em ver a continuidade desta tradição que ele tanto lutou para acontecer, com a colaboração de muitos padres que por aqui passaram, em especial Pe. Thiago, que está nesta luta conosco hoje, para manter a festa.
Além do já relatado, nossa festa conta com a parte social (movimento de barracas, bingos e shows musicais).

Que São Benedito abençoe nossa comunidade, nossa paróquia e todos os congadeiros e festeiros que passaram, passam e que ainda vão passar por esta belíssima festa!”


Fontes:





*Em consequência da Pandemia do novo coronavirus, não se pode realizar a festa. O texto foi escrito em 2015, quando ainda era administrador paroquial o Pe. Thiago Guimarães.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Queremos saber sua opinião...