Breve
Histórico sobre a
Paróquia de Santa Catarina de Alexandria
Eram
nos tempos antigos, quando desbravadores corriam por todos os cantos das Minas
Gerais em buscas dos metais preciosos. Nos idos de 1741, mineradores que
faiscavam em Campanha chegaram no então Descoberto da Pedra Branca, local que
depois se formou o povoado e a Capella de Santa Catharina.
Supõe-se
que o nome fora dado por Manuel Lopes Viana ou sua esposa, Antônia Teixeira, que
era descendente dos primeiros desbravadores do descoberto. Talvez quisessem
perpetuar a memória da pátria que deixaram do outro lado do Atlântico. Olhando
para a bela Serra de Santa Catarina, lembravam-se daquelas de mesmo nome que
deixaram em terras lusitanas. Fizeram por aqui a sua morada e construíram a Capella
de Santa Catharina, cuja primeira notícia é de 1749 em virtude do
sepultamento de um escravo de nome Antônio. Mais tarde, em 1770, foi a Capela
elevada à categoria de Ermida. Isso fez a localização mais conhecida e cada vez
mais ilustre, aparelhando a ermida para pleitear o título de Paróquia. Correndo
o ano de 1820, requereram os moradores da aplicação da Ermida de Santa Catarina
que ali se criasse uma Paróquia.
Passados
322 anos do descobrimento da Terra de Santa Cruz, 81 anos depois do Descoberto
da Pedra Branca, 14 anos da chegada da Família Real ao Brasil, 6 meses após o
dia do Fico e às vésperas da Independência e Criação do Império do Brasil, em
11 de julho de 1822, por decreto régio, Dom Pedro I, na qualidade de Príncipe
Regente, erigiu em “Parochia Collada a Capella de Santa Catharina,
desmembrando-a de Matriz da de Villa da Campanha da Princeza, do Bispado de
Mariana”.
Seu
primeiro pároco foi o Padre Mariano Accioli d’Albuquerque. Curioso fato que
esse padre era escultor. Permanecendo muitos anos em Santa Catharina,
confeccionou uma Pia Batismal toda em pedra.
A
antiga capela era inteiriça em madeira, como era costume nas pequenas
localidades, mas já sofria bastante com a ação temporal de quase três quartos
de século. Decidiram, em 1816, por bem dos fiéis, que se fosse feita outra mais
condigna da grandeza do lugar e em local mais apropriado. Nesse ínterim, foi
dada a autorização para se erguer a Matriz da recém-criada paróquia.
Aos
poucos, por meio de esmolas, foram erguendo a nova Matriz em local que se
encontra até os dias atuais e, ao redor do qual, cresceu a população. Muitos
anos ainda seriam necessários para que fosse finalizada. Em 1824, em visita
pastoral, Dom Frei José da Santíssima Trindade notou que a Matriz ainda estava inacabada
e necessitada de alguns materiais. Em 1825, foi firmado contrato com Jozé de
Souza Varella, arquiteto, para a construção e finalização artística do templo.
Foi
essa igreja, em estilo colonial mineiro e altar em rococó, que atravessou o
século e chamava a atenção dos visitantes por possuir “huma linda capella do
Santíssimo”. Seu altar-mor foi, como é, dedicado à excelsa padroeira Santa
Catarina de Alexandria, com os altares laterais levantados em honra a São
Sebastião e a Nossa Senhora das Dores. A nave era ornada com as estações da Via
Sacra, os quadros da morte do justo e do ímpio, além das colunas encimadas de
arcos no estilo da época.
A
beleza maior, porém, era aquela advinda da vida comunitária animada pelos
ofícios paroquiais e pela devoção popular. Os paroquianos sempre faziam da
melhor forma possível. Para a Semana Maior, muitas famílias partiam de suas
casas distantes para alguma habitação provisória afim de participar melhor dos
ofícios. Outras terminavam os afazeres do campo mais cedo e vinham juntos para
a Matriz, em caminhada, todos os dias.
Quando
o ano já se ia pela metade, que agradável odor era para os transeuntes o
perfume das flores de laranjeira ofertado ao Senhor quando passava a Procissão
do Corpo de Deus! Chegando o mês de novembro, todos os devotos acorriam à
Matriz para “novena solemne com harmonium e práticas”. No dia da Festa,
Missa Cantata com grande número de comunhões, além da “procissão solemne,
prática, Te Deum e Bençam do SS. Sacramento. Em todos os actos haviam um número
extraordinário de fiéis”.
Essa
e outras procissões eram organizadas durante todo o ano pelas irmandades, das
quais temos notícia a do Santíssimo Sacramento, a de Nossa Senhora das Dores e a
de Nossa Senhora do Rosário. A irmandade do Rosário, que era muito bem
organizada com grande número de irmãos e irmãs seguindo estatuto próprio,
conseguiu erguer uma capela para o título de sua devoção. Em 1876 foi feita
procissão com a nova imagem, benção da capela e celebração da missa cantada. Ao
final entoaram o Te Deum.
Sabemos
que o tempo age irreparavelmente em todas as coisas materiais. Não foi
diferente para o antigo templo dessa paróquia. Portanto, em 1932, a 26 de maio,
foi benta a Pedra Fundamental para a construção de uma Nova Matriz e iniciaram
o projeto da Torre em estilo neogótico, finalizada em 1933. A nave, porém,
conservou-se ainda como nos tempos de outrora, até a década de 1960, quando foi
refeita no estilo que temos hoje.
No
dia 25 de abril de 2022 iniciaram-se as obras de revitalização da Matriz,
incluindo a substituição do barrado interno, da parte elétrica, a iluminação, o
som, o polimento do piso, construção de um acesso interno à Capela do
Santíssimo, reparação do telhado e também a igreja ganhou uma nova coloração
conforme o seu estilo neogótico. Para a torre, uma das maiores do rincão
sul-mineiro, foram escolhidos tons terrosos com o pináculo em verde colonial.
No interior predomina o róseo que destaca os belíssimos vitrais. A conclusão
dos trabalhos se deu em 25 de outubro de 2022.
Muitos
padres passaram por esta bicentenária paróquia e aqui vieram fazer o bem para o
povo de Deus. Não saíram, porém, sem antes se tornarem devotos de Santa
Catarina. Também esta Matriz gerou sacerdotes que muito orgulham o nome de sua
paróquia. Destacamos um, em especial, que serviu notavelmente a Diocese da
Campanha por muito tempo, exemplar devoto de Santa Catarina e verdadeiro Pastor
Bom que espalhou o suave odor de Cristo por onde passou: Monsenhor José Hugo
Goulart e Silva. Ainda hoje a memória de todo bispado campanhense aclama com
saudade e veneração: “Esse homem é um santo!”
Também
se poderá dizer que a vocação leiga à vocação é profícua nessas terras de Santa
Catarina. Muitos homens e mulheres, fervorosos na fé, pessoas de oração
profunda e muito devotos de Nossa Senhora Aparecida e de nossa Padroeira
viveram (e vivem) intensamente, impulsionados pelo Espírito de Cristo, a
vivência da Caridade na vida comunitária.
Pelos
anais da história podemos ver que o povo catarinense (hoje naterciano) traz,
como que impresso em suas almas, a Fé em Cristo Jesus e a pura devoção à sua
Padroeira desde a criação do povoado. Nossa gente surgiu em torno do altar e
sob a proteção da sua megalomártir de Alexandria. É imensa alegria notar a
mesma devoção e o mesmo amor dos primeiros devotos dessas terras quando o povo
junto aclama “Ave Maria” e invoca a proteção da celestial intercessora.
Nossa paróquia ufana-se do jubiloso bicentenário de sua criação neste ano de 2022. São abençoadas essas terras por ter excelsa virgem e ínclita mártir como padroeira. Sua devoção perpassou os séculos e hoje encontra-se tão viva quanto nos tempos de outrora.
Santa Catarina, rogai por nós!
Juliédson Artur Malaquias Reis
Membro da Comissão Histórica para os 200 anos
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