quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Bicentenário Paroquial

Breve Histórico sobre a
Paróquia de Santa Catarina de Alexandria
 

Eram nos tempos antigos, quando desbravadores corriam por todos os cantos das Minas Gerais em buscas dos metais preciosos. Nos idos de 1741, mineradores que faiscavam em Campanha chegaram no então Descoberto da Pedra Branca, local que depois se formou o povoado e a Capella de Santa Catharina.

Supõe-se que o nome fora dado por Manuel Lopes Viana ou sua esposa, Antônia Teixeira, que era descendente dos primeiros desbravadores do descoberto. Talvez quisessem perpetuar a memória da pátria que deixaram do outro lado do Atlântico. Olhando para a bela Serra de Santa Catarina, lembravam-se daquelas de mesmo nome que deixaram em terras lusitanas. Fizeram por aqui a sua morada e construíram a Capella de Santa Catharina, cuja primeira notícia é de 1749 em virtude do sepultamento de um escravo de nome Antônio. Mais tarde, em 1770, foi a Capela elevada à categoria de Ermida. Isso fez a localização mais conhecida e cada vez mais ilustre, aparelhando a ermida para pleitear o título de Paróquia. Correndo o ano de 1820, requereram os moradores da aplicação da Ermida de Santa Catarina que ali se criasse uma Paróquia.

Passados 322 anos do descobrimento da Terra de Santa Cruz, 81 anos depois do Descoberto da Pedra Branca, 14 anos da chegada da Família Real ao Brasil, 6 meses após o dia do Fico e às vésperas da Independência e Criação do Império do Brasil, em 11 de julho de 1822, por decreto régio, Dom Pedro I, na qualidade de Príncipe Regente, erigiu em “Parochia Collada a Capella de Santa Catharina, desmembrando-a de Matriz da de Villa da Campanha da Princeza, do Bispado de Mariana”.

Seu primeiro pároco foi o Padre Mariano Accioli d’Albuquerque. Curioso fato que esse padre era escultor. Permanecendo muitos anos em Santa Catharina, confeccionou uma Pia Batismal toda em pedra.

A antiga capela era inteiriça em madeira, como era costume nas pequenas localidades, mas já sofria bastante com a ação temporal de quase três quartos de século. Decidiram, em 1816, por bem dos fiéis, que se fosse feita outra mais condigna da grandeza do lugar e em local mais apropriado. Nesse ínterim, foi dada a autorização para se erguer a Matriz da recém-criada paróquia.

Aos poucos, por meio de esmolas, foram erguendo a nova Matriz em local que se encontra até os dias atuais e, ao redor do qual, cresceu a população. Muitos anos ainda seriam necessários para que fosse finalizada. Em 1824, em visita pastoral, Dom Frei José da Santíssima Trindade notou que a Matriz ainda estava inacabada e necessitada de alguns materiais. Em 1825, foi firmado contrato com Jozé de Souza Varella, arquiteto, para a construção e finalização artística do templo.

Foi essa igreja, em estilo colonial mineiro e altar em rococó, que atravessou o século e chamava a atenção dos visitantes por possuir “huma linda capella do Santíssimo”. Seu altar-mor foi, como é, dedicado à excelsa padroeira Santa Catarina de Alexandria, com os altares laterais levantados em honra a São Sebastião e a Nossa Senhora das Dores. A nave era ornada com as estações da Via Sacra, os quadros da morte do justo e do ímpio, além das colunas encimadas de arcos no estilo da época.

A beleza maior, porém, era aquela advinda da vida comunitária animada pelos ofícios paroquiais e pela devoção popular. Os paroquianos sempre faziam da melhor forma possível. Para a Semana Maior, muitas famílias partiam de suas casas distantes para alguma habitação provisória afim de participar melhor dos ofícios. Outras terminavam os afazeres do campo mais cedo e vinham juntos para a Matriz, em caminhada, todos os dias.

Quando o ano já se ia pela metade, que agradável odor era para os transeuntes o perfume das flores de laranjeira ofertado ao Senhor quando passava a Procissão do Corpo de Deus! Chegando o mês de novembro, todos os devotos acorriam à Matriz para “novena solemne com harmonium e práticas”. No dia da Festa, Missa Cantata com grande número de comunhões, além da “procissão solemne, prática, Te Deum e Bençam do SS. Sacramento. Em todos os actos haviam um número extraordinário de fiéis”.

Essa e outras procissões eram organizadas durante todo o ano pelas irmandades, das quais temos notícia a do Santíssimo Sacramento, a de Nossa Senhora das Dores e a de Nossa Senhora do Rosário. A irmandade do Rosário, que era muito bem organizada com grande número de irmãos e irmãs seguindo estatuto próprio, conseguiu erguer uma capela para o título de sua devoção. Em 1876 foi feita procissão com a nova imagem, benção da capela e celebração da missa cantada. Ao final entoaram o Te Deum.

Sabemos que o tempo age irreparavelmente em todas as coisas materiais. Não foi diferente para o antigo templo dessa paróquia. Portanto, em 1932, a 26 de maio, foi benta a Pedra Fundamental para a construção de uma Nova Matriz e iniciaram o projeto da Torre em estilo neogótico, finalizada em 1933. A nave, porém, conservou-se ainda como nos tempos de outrora, até a década de 1960, quando foi refeita no estilo que temos hoje.

No dia 25 de abril de 2022 iniciaram-se as obras de revitalização da Matriz, incluindo a substituição do barrado interno, da parte elétrica, a iluminação, o som, o polimento do piso, construção de um acesso interno à Capela do Santíssimo, reparação do telhado e também a igreja ganhou uma nova coloração conforme o seu estilo neogótico. Para a torre, uma das maiores do rincão sul-mineiro, foram escolhidos tons terrosos com o pináculo em verde colonial. No interior predomina o róseo que destaca os belíssimos vitrais. A conclusão dos trabalhos se deu em 25 de outubro de 2022.

Muitos padres passaram por esta bicentenária paróquia e aqui vieram fazer o bem para o povo de Deus. Não saíram, porém, sem antes se tornarem devotos de Santa Catarina. Também esta Matriz gerou sacerdotes que muito orgulham o nome de sua paróquia. Destacamos um, em especial, que serviu notavelmente a Diocese da Campanha por muito tempo, exemplar devoto de Santa Catarina e verdadeiro Pastor Bom que espalhou o suave odor de Cristo por onde passou: Monsenhor José Hugo Goulart e Silva. Ainda hoje a memória de todo bispado campanhense aclama com saudade e veneração: “Esse homem é um santo!”

Também se poderá dizer que a vocação leiga à vocação é profícua nessas terras de Santa Catarina. Muitos homens e mulheres, fervorosos na fé, pessoas de oração profunda e muito devotos de Nossa Senhora Aparecida e de nossa Padroeira viveram (e vivem) intensamente, impulsionados pelo Espírito de Cristo, a vivência da Caridade na vida comunitária.

Pelos anais da história podemos ver que o povo catarinense (hoje naterciano) traz, como que impresso em suas almas, a Fé em Cristo Jesus e a pura devoção à sua Padroeira desde a criação do povoado. Nossa gente surgiu em torno do altar e sob a proteção da sua megalomártir de Alexandria. É imensa alegria notar a mesma devoção e o mesmo amor dos primeiros devotos dessas terras quando o povo junto aclama “Ave Maria” e invoca a proteção da celestial intercessora.

Nossa paróquia ufana-se do jubiloso bicentenário de sua criação neste ano de 2022. São abençoadas essas terras por ter excelsa virgem e ínclita mártir como padroeira. Sua devoção perpassou os séculos e hoje encontra-se tão viva quanto nos tempos de outrora. 

Santa Catarina, rogai por nós! 

Juliédson Artur Malaquias Reis
Membro da Comissão Histórica para os 200 anos




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